O mito dos virginianos sempre nos remete a uma história da relação "mãe e filha"; se for mãe-filho, este a experimentará através de sua Anima ou de outras mulheres; como diz Jung, "toda mãe contém em si sua filha, e toda filha, a sua mãe (...) a experiência consciente desses laços dá a sensação de que sua vida se estende por gerações, o que dá a impressão de imortalidade".
Mas o que tem tudo isso a ver com nossos "pacatos" virginianos, segundo a tradição popular compulsivamente dedicados à ordem e à organização, com "mania de doença" e críticos ao extremo?
O virginiano nasce em um mundo amplamente dominado pela figura materna, que vive na época uma fase crítica em relação à própria sensualidade e corporalidade; assim , ao lidar com a criança recém-nascida, essa mãe lhe transmite a sensação de seu corpo não ser algo "gostoso de se tocar" (é muito freqüente a mãe do virginiano "não gostar" de trocar fraldas ou limpar e lavar seu bebê). Isso cinde profundamente o virginiano (seja homem ou mulher), pois a forte sensualidade presente nas pessoas que têm Virgem por signo solar se nega a manifestar-se futuramente. Como resultado, o virginiano inclina-se profundamente à racionalização e se esquiva de viver sua sensualidade e corporalidade (a primeira dimensão vital concreta) às últimas conseqüências, tentando manter-se imune aos apelos da Vida — até o momento em que a Vida se intromete e o obriga a enfrentar a experiência vital de forma mais plena.
Isso explica a duplicidade encontrada com freqüência no signo, perceptível no embate entre uma timidez e uma pudicícia muito fortes, de um lado, e o que se poderia chamar de "comportamento sexual não ortodoxo", de outro. Essa duplicidade, angustiante enquanto não entendida, é muitas vezes encontrada tanto nas prostitutas, que com freqüência são virginianas (ou têm Lua ou Ascendente em Virgem), quanto na dona-de-casa que, inexplicavelmente, acalenta inúmeros (mas muitas vezes sufocados) desejos de se envolver com amantes de um dia só.
Em sua face imatura, o virginiano (ou a virginiana) mantém-se distante da própria capacidade de amar e de viver; tendo sido submetida a muitas críticas no lar materno e ao afastamento das próprias sensações corporais, a pessoa duvida de si mesma e inclina-se poderosamente a relações de "muito trabalho e pouca paga" — quer do ponto de vista profissional, quer do ponto de vista emocional-afetivo. A força da deusa, porém, pressiona por manifestar-se e o virginiano muitas vezes termina por viver em sua vida o papel de Sereia, envolvida num ritual narcísico de amor por si mesma.
O mesmo vale para o ritual masculino virginiano, quando ele se integra a si mesmo através da maturação do seu núcleo feminino sensual e do abandono das expectativas coletivas em prol da própria vida que corre em suas veias. Deixa de fazer o que é "aceitável" (o que sempre exige muita autocrítica), abandona a compulsão pelo "seguro" e mergulha nas profundezas de si mesmo, isolado e solitário — de onde renascerá como filho natural de seu próprio "casamento interior".
Porque se "maternidade", no sentido mais amplo da palavra, é dar à luz o fruto da própria capacidade criativa, então esse mitologema se aplica a virginianos de ambos os sexos, pois todos são verdadeiramente compelidos a mostrar publicamente, de forma concreta e expressiva, o quanto são capazes.
Ao fazer isso, "matam" a Sereia que vive dentro de si mesmos, pois a realização material elimina qualquer possibilidade de perfeccionismo — em função da qual existia o criticismo exacerbado em relação a si e aos outros. Com o desaparecimento do narcisismo, em função da aceitação do Outro como pólo essencial para a plena realização da identidade (já que a vivência de sensualidade não consegue se dar isoladamente), a possibilidade de amar se manifesta de fato — seja esse Outro quem for, pois o núcleo mítico de Virgem não reconhece a submissão a "marido" ou "mulher" como norma ou fonte principal de encontro consigo mesmo.
ABRAÇOS